Rindo da desgraça em: ‘Feliz Ano Velho’, de Marcelo Rubens Paiva


Tinha tudo para ser uma história dramática, dessas que passam uma lição de vida, mas ao mesmo tempo nos deixa tristes. E seria, se fosse escrita por alguém com uma visão simplista da vida. Mas a autobiografia de Marcelo Rubens Paiva, lançada em 1982 e intitulada “Feliz Ano Velho”, é um livro de puro humor e é capaz até de fazer parecer que ficar paralisado aos 20 anos de idade - por razão de um ato imprudente - é algo bacana.

Talvez isso possa soar exagerado. Mas é assim que Paiva conta sua dramática história após pular num rio e bater a cabeça. Desde as primeiras linhas do livro, o autor utiliza de uma linguagem simples e cômica para descrever o acidente. Com seu jeito instigante, ele narra os pensamentos e emoções que lhe passaram pela cabeça no momento da colisão, em que pensou que morreria.

A partir daí, quando a história deveria ficar cada vez mais tensa, fica, na verdade, mais engraçada. Paiva conta sua estadia no hospital, as visitas que recebeu, o modo como se sentiu, a sensação de descobrir que ficara paralítico e com poucas chances de reversão. O diferencial está na riqueza de detalhes e principalmente na honestidade com que o autor narra os fatos. Talvez a parte cômica seja por conta de seu jeito mulherengo e brincalhão.

Em seus relatos, Paiva, menciona as dificuldades que enfrentou após o acidente para circular em público, o tratamento diferenciado que recebeu por parte de alguns, os embaraços com os cuidados pessoais, a primeira transa após o acidente. E tudo sem deixar de lado o bom humor característico.

A história não é contada cronologicamente, o que só aumenta o suspense e a curiosidade, obrigando a ler o livro inteiro de uma só vez. Apesar de velho, é um livro extremamente atual e, suspeito que, ao menos essa característica, não tenha sido proposital. Uma lição de vida sim, de como podemos escolher viver plenamente até mesmo as dificuldades. 

Filme - Na contramão, o filme 'Feliz Ano Velho', uma adaptação livre do diretor Roberto Gervitz, lançado em 1987, conseguiu abduzir todo o bom humor e o otimismo de Paiva. Em pouco mais de uma hora e cinquenta minutos, o longa narra a história dramática e melancólica do jovem acidentado, mas as cores, os ambientes e os personagens são carregados de tristeza. Nem fui capaz de assistir o filme até o fim devido ao baixo astral imperante e às cenas sem dinamismo. É o que de fato, pode-se chamar de uma adaptação livre.



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